um presente grego (que para mim veio a calhar)
Desembarquei na manhã dessa terça-feira, 30 de junho de 2015, em Lisboa, Portugal, país membro da União Européia. Enquanto esperava o vôo para o meu próximo destino, resolvi fazer o câmbio entre Real e Euro. A moeda se desvalorizou nos últimos dias… E, no final das contas, me dei bem ao não fazer a troca muito antes da viagem. Isso aconteceu por conta da Grécia que não sabe se fica ou se sai da União Européia. Todo mundo conhece a história da invasão de Tróia. Os gregos construiram uma estátua de madeira que representava um cavalo. Dentro dele, muitos e muitos soldados. O “presente” foi deixado no portão da cidade… Os troianos, sem saber do que se tratava, realmente acreditaram na boa intenção. Um vez dentro das muralhas, os gregos tomaram Tróia. A europa vive dias troianos… A Grécia entrou na União Européia e a bagunça está estabelecida. Vou tentar simplificar os motivos.
“O amigo deve ser como o dinheiro, cujo valor já conhecemos antes de termos necessidade dele.”
Sócrates
A – Você aprendeu (e se não aprendeu, deveria ter aprendido) que não podemos gastar mais do que temos. A Grécia não. A crise econômica que o mundo vive desde 2008 é como o inverno que chegou para a cigarra. Os gregos enfrentam muita dificuldade por terem eleito governos que foram irresponsáveis com as contas do país.
B – Quem deve, geralmente busca empréstimos para resolver seus problemas e aperta o cinto para não aumentá-los. A Grécia fez o primeiro e resolveu esquecer o segundo. A dívida do país foi financiada pelo Fundo Monetário Internacional e outros paíes membros da União Européia. Quem empresta, coloca condições…
C – Hoje, uma parcela de um bilhão e seiscentos milhões de euros precisa ser paga ao FMI. A Grécia não tem esse dinheiro. E quer mais empréstimos dos países europeus. Os países europeus, por sua vez, até topam emprestar mais… Todavia, querem que a Grécia economize mais e gaste com mais responsabilidade, como garantia de que um dia vai pagar o que pediu.
D – O primeiro-ministro do país tem um nome que não sei digitar e que você não vai lembrar. O importante é você saber que ele venceu as eleições dizendo que não ia submeter a Grécia a mais austeriade… A população curtiu e elegeu. E sabemos como os políticos podem ser irresponsáveis com suas promessas eleitorais. Diante dessa saia justa, o chefe do governo grego convocou um referendo que pergunta à população o seguinte: vocês concordam com as condições européias para o empréstimo? Sim ou não? Todos sabemos que a população vai gritar um sonono não nas ruas de Atenas.
E – Com isso, a situação piorou. Pense no seguinte: se a o população disser não, o dinheiro para pagar a parcela não vai chegar. Ou seja: calote. E quem é caloteiro fica sem crédito na praça. Quando é uma pessoa que faz isso, ela não consegue comprar mais nada e o nome dela fica sujo. Com um país é parecido. Um dos efeitos é a desvalorizção da moeda… Só que a moeda que a Grécia usa não é só dela… Entenderam? A lambança das contas gregas prejudicam todo o bloco.
F – Nessas horas, há risco do caos. O pânico se generaliza, a moeda se desvaloriza e as pessoas querem transformar o dinhiiro que tem em bens tangíveis como suprimentos. A população corre nos bancos para sacar tudo! E, se você lembra das aulas de economia, sabe que se todo mundo for aos bancos sacar tudo, o sistema financeiro desaba. Isso já ocorreu no Brasil algumas vezes antes da estabilidade financeira. O que a Grécia fez? Fechou os bancos para preservar as instituições. Realmente, existe o risco do dinheiro que o cidadão possua numa poupança passe a não valer nada no dia seguinte…
G – Sem pagar o FMI, temos o “default”, uma palavra chique que significa “DEU MERDA”! Isso pode resultar na saída da Grécia da União Européia. A Grécia não deve ser expulsa, até por que esse mecanismo inexiste no bloco, mas pode abandonar o navio. O noticiário no aeroporto apontava que as chances são de 60%…
A punição que os bons sofrem, quando se recusam a agir, é viver sob o governo dos maus.
Platão
H – Com o calote, a Grécia pode ser suspensa do Eurogrupo e do conselho do Banco Central Europeu.
I – A Europa, tendo como principal porta-voz a primeira-ministra alemã Angela Merkel, insiste para que os gregos aceitem as condições do empréstimo. Se a Grécia deixar o bloco, todo um trabalho de anos pode ser comprometido, bem como a confiança na região e na sua moeda. A Inglaterra tem um referendo marcado para 2016 onde seus cidadãos serão consultados sobre a permanência no bloco.
J – A Grécia vê pontos positivos na saída da União Européia. Acredita que vai retomar o controle sobre sua política monetária (terceirizada pela Banco Central Europeu). Uma faca de dois gumes! Talvez seja positivo para alavancar expostações, mas pode fechar as torneiras do capital estrangeiro.
K – O ministro das finanças grego vive dias terríveis. Ele quer convencer a população que tudo está sob controle… Todavia, mais de oitenta bilhões de euros saíram da Grécia desde o início dessa crise.
L – Acho que os gregos não estão blefando. A Grécia vai sair da zona do Euro. A questão não é mais “se”. Eu me pergunto “quando”. O que vai aconrtecer depois?
Para nos mantermos bem é necessário comer pouco e trabalhar muito.
Aristóteles
M – Alexis Tsipras (esse é o nome do primeiro-minstiro) pode não receber a última parcela do pacote de ajuda negociado em 2012 (uma bagatela de sete bilhões de euros) e, se isso correr, não conseguirá pagar aposentadorias, salários do funcionalismo, os custos da máquina. Ou seja, povo sem hopsital, escola, delegacia… Para ficar noutra figura grega: vão abrir a Caixa de Pandora.
N – Os imbecis (não há outro adjetivo) comemoram! Adoram ver um banco quebrar… Acham que os banqueiros são malvados e que os juros são abusivos. Quando o dinheiro é gasto de maneira irresponsável ninguém xinga. Quando vêm as consequências, dá-se o berreiro.
0 – A Grécia está atolada até o pescoço. Além da dívida de hoje, há mais parcelas a serem pagars em julho e agosto.
P – O controle de capitais não é novidade. 1997 na Ásia. 2001 na Argentina. 2008 na Islândia. A fórmula consiste em limitar saques bancários (alô, Zélia Cardoso de Mello), estabelecer limites a pagamentos de exportadores fora do país, restringir a quantia que cidadãos podem viajar para fora do país, conter saques nos caixas-eletrônicos, ou seja, amarrar a grana e não deixar ela circular.
Q – Antes do Euro, a Grécia adotava o Dracma. Ele pode voltar. E vai valer bananas… (E pensar que o Brasil já passou por situações piores antes do Plano Real) A inflação vai explodir e, claro, a população mais pobre vai arcar com as piores consequências. Recessão com molho grego no capricho!
R – A União Européia está de cabelo em pé, pois seus tratados não prevêem como proceder em caso de abandono. Do ponto de vista jurídico, haveria um vácuo de lei para resolver o problema.
S – A possibilidade do “grexit” (apelido para saída da Grécia da União Européia) está deixando os mercados em pânico.
T – Se a Grécia for a primeria de uma fila, o Euro começa a derreter. Isso pode levar o mundo para um situação complicada. O Brasil que já não vai bem das pernas, poderia ser ainda mais prejudicado por uma turbulência. Portugal também pode vir a ter dias de Grécia. Irlanda idem. O sonho de um contineu europeu unificado começa a ruir… Isso tem efeitos socio-politicos também como ressurgimento de nacionalismos exarcebados.
U – O próprio Syriza, partido do primeiro-ministro grego eleito cuja ideologia se auto proclama de extrema esquerda, é um desses efeitos. Extremismos à esquerda e à direita tem sufocado o bom senso no debate político por aqui.
V – A União Européia mantém a esperança. Acham que a Grécia vai pagar… A esperança é a última que morre.
X – Os bancos seguirão fechados em Atenas e demais cidades gregas até seis de julho. O referendo do “sim ou não” ocorre no dia cinco de julho. Os turistas devem estar aproveitando… O dinheiro vivo, nesses casos, passa a valer mais.
W – Se sair mesmo do bloco, os gregos não vão viver seus melhores dias. Se você possui dinheiro, pode ir lá por que até o Partenon deve entrar em liquidação.
Y – O Brasil está longe de viver dias gregos, mas coisas como as “pedaladas fiscais” que a presidente Dilma Rousseff ostenta em seu currículo são um atalho para momentos assim.
Z – O próximo cambio que farei será adquirindo Libras. Essa moeda segue forte… E me lembro de Margareth Thatcher dizendo “não, não e não” ao Euro em 1990. A próxima parada é o Reino Unido.
Atualização de meio-dia, horário de Lisboa: o Ministro das Finanças grego acaba de confirmar que não vai pagar o FMI nessa terça-feira.