quem vai ser o prefeito de Belo Horizonte?
O sexto texto que publiquei nesse blog em 25 de junho de 2015 tratava das eleições deste ano na capital mineira. Relacionei de A a Z, os candidatos a prefeito de Belo Horizonte para 2016. Faltou letra e sobrou candidato. O cenário era nebuloso. E tudo continua nublado, embora alguns raios de sol estejam clareando o processo. Na década de trinta, o poder executivo belo-horizontino ganhou uma nova sede. O Palácio da Municipalidade, situado na Avenida Afonso Pena, número 1.212, foi erguido no estilo art-decó. Uma das suas marcas é a torre com um relógio. Que os candidatos estejam muito atentos a ele. Fotografei-o ontem a tarde. O tempo está se esgotando. No próximo dia 2 de abril, termina o prazo para que todos aqueles que desejam concorrer a um cargo público neste ano estejam devidamente filiados a um partido político. (Lei nº 9.504/1997, art. 9º, caput, e Lei nº 9.096/1995, art. 20, caput). Eu não gosto dessa regra, mas essa é a regra. E regra ou se muda, ou se cumpre. Vale observar que 5 de agosto de 2016 é o último dia para a realização de convenções destinadas à deliberar sobre coligações e escolher candidatos a prefeito, a vice-prefeito e a vereador (Lei nº 9.504/1997, art. 8º, caput). Entre 2 de abril e 5 de agosto há tempo considerável, mas depois que um político se filiou à um partido na primeira data, ele não poderá mudar até a segunda data, caso contrário perde a condição de elegibilidade. Portanto, é hora de deduzirmos com que roupa os candidatos vão.
Conversa de mais de dois é comício. Reunião só depois do assunto resolvido. Benedito Valadares
A – Uma expressão mineira que já foi muito usada, mas ficou no passado é a seguinte: “Será o Benedito?” A frase ainda é utilizada em casos de surpresa. E tem uma história política na sua raiz. A origem dessa curiosa expressão é ligada ao ex-governador do estado, Benedito Valadares. Mais tarde viraria nome de cidade. Após a Revolução de 1930, Getúlio Vargas assumiu o governo provisório do Brasil. Com a suspensão da Constituição de 1891 e Congresso Nacional e assembleias estaduais fechados, ele gozava de plenos poderes. Entre eles, a indicação dos interventores estaduais. Com a morte de Olegário Maciel (ataque cardíaco na banheira do Palácio da Liberdade, coitado), em setembro de 1933, Vargas precisava definir o novo interventor de Minas Gerais. Havia, entre seus aliados, dois homens fortes que pressionavam por suas indicações. Um era o ministro da Fazenda, Oswaldo Aranha, que indicava Virgílio Melo Franco, que ainda tinha o apoio do pai, Afrânio de Melo Franco, ministro das Relações Exteriores. O outro era Flores da Cunha, interventor do Rio Grande do Sul, que apoiava Gustavo Capanema. Assim, previa-se que um dos dois fosse indicado. No entanto, para a surpresa de todos, Vargas escolheu Benedito Valadares, político mineiro de pouco destaque que havia apoiado sua candidatura em 1930. A surpresa teria sido tão grande que a própria mãe de Valadares teria exclamado: “Será o Benedito?”. Assim, a expressão teria caído no gosto do povo e no folclore político. Getúlio Vargas sabia que nomeando alguém sem grande expressão na política teria maior controle sobre o interventor e sobre o quadro político do estado. Não deu outra: Valadares manteve-se fiel. Em 1935, foi eleito governador constitucional de Minas e permaneceu no posto até 1945, quando Vargas foi deposto.
B – Não perco tempo ao narrar essa história. Quem conhece bem o passado, sabe que ele se repete com nova roupagem. Querem ver só? Na última vez que tratei do assunto aqui no blog, enumerei as cartas, mas não contei os jogadores. E quem está na mesa? Ela tem quatro lugares preenchidos por Aécio Neves, Senador por Minas Gerais, Marcio Lacerda, Prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, Governador de Minas Gerais, e Antonio Andrade, Vice-Governador de Minas Gerais. Ao que tudo indica, os jogadores estão organizados em pares. Aécio Neves joga com Marcio Lacerda. Fernando Pimentel joga com Antonio Andrade. Pode ser que sim. Pode ser que não. Vamos a cada um deles.
C – Fernando Pimentel foi o 50º Prefeito de Belo Horizonte. É o 20º Governador de Minas Gerais. É o membro mais importante do Partido dos Trabalhadores no Estado e, por consequência, um dos petistas mais importantes do Brasil, sendo um dos cinco governadores da mesma legenda. Ele quer um aliado na prefeitura da capital? Com certeza ele quer. Só que a vida prega peças não é mesmo? Digamos que a Polícia Federal não tem tornado o cotidiano do governador tão tranquilo… Ele se tornou alvo da Operação Acrônimo no Superior Tribunal de Justiça. Há mais: o PT é hoje o partido mais rejeitado do Brasil, segundo pesquisa IBOPE realizada recentemente. E, para completar, a popularidade de Dilma Rousseff e o sítio de Lula da Silva, dificultam uma caravana dos dois para apoiar candidatos pelo Brasil. Desconfio que nem mesmo os candidatos queiram isso. Vamos analisar que cartas ele tem adiante.
D – Antonio Andrade é um vice-governador discreto. Seu partido é o PMDB, uma legenda para profissionais. Ainda essa semana, seus correligionários receberam o Vice-Presidente da República em Belo Horizonte. No evento, todo mundo disse que não quer saber mais do PT. Espera-se um rompimento a nível nacional a qualquer momento e até Newton Cardoso considera o governo federal podre. Vejam só… O fato é que enquanto o Governo de Minas Gerais faz água deixando até de pagar os funcionários em dia, o vice-governador faz política. E muita. Vejamos quais as opções do partido mais adiante.
E – Aécio Neves já foi candidato a prefeito de Belo Horizonte. Em 1992, Patrus Ananias derrotou o tucano. Essa era a única derrota do mineiro até o ano passado. Em 1986, na sua primeira eleição, foi o deputado constituinte mais bem votado de Minas Gerais com apenas 26 anos. Foi reeleito deputado em 1990, em 1994 e em 1998. Foi eleito governador em 2002 e reeleito em 2006. Em 2010, tornou-senador, cargo que ocupa até hoje, tendo sido candidato a presidente em 2014. No mesmo ano, além da derrota presidencial, Aécio Neves cometeu um erro grave: escolheu Pimenta da Veiga como candidato ao Governo de Minas Gerais. Esse equívoco culminou numa derrota que interrompeu os 12 anos de governo do PSDB no Estado. Há quem diga que a própria derrota na candidatura presidencial decorre disso. O fato é o seguinte: ele será candidato a Presidente de República em 2018 e certamente deseja recuperar o governo estadual para seu campo aliado. Se aprendeu a lição, deverá escolher um candidato melhor da próxima vez. Antes de 2018, há 2016. Vencer a disputa em Belo Horizonte é importante para ele e para seu time político. Sobretudo, o candidato dele deve ser do PSDB. O que não falta é carta querendo estar à disposição para esse jogo. Irei citá-las.
F – Marcio Lacerda já foi carta de baralho e hoje se tornou um jogador. Em 2008, o prefeito foi a grande jogada de Aécio Neves e Fernando Pimentel. Naquela oportunidade, PT e PSDB se uniram para lançar o candidato da aliança. Comovente, não é mesmo? De lá para cá, sempre filiado ao PSB, vale citar que ele tirou o PT da sua coligação na disputa pela reeleição em 2012. Após quase 8 anos ocupando o cargo, a política definitivamente conquistou o homem que nunca tinha disputado nenhuma eleição. Marcio Lacerda quer ser o 21º Governador do Estado de Minas Gerais a partir de 2019. E não esconde essa ambição de ninguém. Muito pelo contrário. O prefeito cuida de Belo Horizonte nos dias úteis e, por ocupar a presidência estadual do PSB, dedica seus fins de semana a viagens pelo interior cultivando aliados e plantando alianças para 2018. Ora, vejam! Ele considera que para efetivar tal plano é fundamental manter um aliado no comando da prefeitura de Belo Horizonte. Faz sentido? Faz sentido. Ocorre que Marcio Lacerda é exigente e ambiciona colocar em seu lugar alguém feito a sua imagem e semelhança. Já disse, repetiu e insistiu que sua cadeira não comporta mais políticos… Risos. É uma afirmação curiosa para quem nem mesmo saiu dela e já deseja ocupar outra no Palácio Tiradentes. Ironia a parte, o prefeito considera que é fundamental ter na disputa algum candidato com perfil técnico. Sei. Qual será sua cartada?
Esperteza, quando é muita, come o dono. Tancredo Neves
G – Se você não leu o último artigo, leia. Política também é matemática. E agora vamos subtrair quem estava na lista de candidatos e deixou de estar. Nesse texto, estamos espiando as cartas nas mãos dos quatro jogadores. As seguintes cartas não estão mais na mesa: Dinis Pinheiro, do PP, foi presidente da Assembleia Legislativa e candidato a vice-governador de Minas Gerais em 2014 (passou a apoiar a postulação de Alberto Pinto Coelho, ex-governador de Minas Gerais); Gustavo Valadares, do PSDB, foi candidato a prefeito em 2008 e possui um mandato de deputado estadual; Helvécio Magalhães, do PT, foi secretário municipal de saúde e exerce a função de secretário estadual de planejamento e gestão (digamos que a prioridade dele passou a ser conseguir pagar os funcionários públicos em dia); Iran Barbosa, do PMDB, foi vereador e possui um mandato de deputado estadual; João Leite, do PSDB, possui um mandato de deputado estadual; Luzia Ferreira, do PPS, foi deputada estadual e exerce a função de secretária de políticas sociais; Marcus Pestana, do PSDB, foi secretário estadual de saúde e possui um mandato de deputado federal; Pimenta da Veiga, do PSDB, foi candidato a governador de Minas Gerais em 2014 (abriu mão da disputa para alívio secreto de seus correligionários); Rodrigo de Castro, do PSDB, possui um mandato de deputado federal; e Sávio Souza Cruz, do PMDB, possui um mandato de deputado estadual e exerce a função de secretário estadual do meio ambiente. 10 cartas saíram do jogo!
H – Agora, vamos organizar o baralho. E vamos começar pelo PT. Somente uma carta saiu e ficaram três. O deputado federal Gabriel Guimarães, o deputado federal Miguel Corrêa, que exerce a função de secretário estadual de ciência, tecnologia e ensino superior no Governo Estadual e o deputado federal Patrus Ananias, que exerce a função de ministro de desenvolvimento agrário no Governo Federal. O PT cita outros candidatos ao afirmar que terá candidatura própria na cidade, mas como sei que há inteligência no partido, se candidato houver será mesmo um dos três supracitados e não outras cartas fora do baralho. A maior carta sem dúvidas é Patrus. Além de já ter sido prefeito, na última eleição, mesmo derrotado, garantiu o 2º lugar e 40% dos votos. Estamos falando de uma campanha que vai durar 47 dias a partir de 16 de agosto de 2016 (Lei nº 9.504/1997, art. 36, caput) e terá apenas 30 dias de campanha no rádio e televisão (excluídos os domingos) de 26 de agosto a 29 de setembro (Lei nº 9.504/1997, art. 47, caput). Isso quer dizer que candidatos conhecidos pela população possuem muita vantagem, uma vez que o período eleitoral é quase três vezes menor que anteriormente. Algumas fontes no PT (sim, eu tenho fontes no PT) me garantem que Patrus Ananias faz uma exigência para ser candidato: ele será o único responsável pelas nomeações na prefeitura caso eleito. Olha, se eu fosse ele também pediria o mesmo para que, em caso de escândalo, a gente pudesse ver um novo repertório no partido ao invés do já desgastado “não sabia”. Todavia, o mundo mágico de Patrus Ananias só existe mesmo para ele. Quem acredita que o PT tope? Por PT, leia-se Fernando Pimentel. O governador não gosta de Patrus Ananias. E acho que ele pode vetar seu nome na disputa mesmo considerando todo o potencial. Só não tiro o nome dele do jogo por que ainda é cedo. Sobram dois arcanjos… Gabriel e Miguel. Gabriel ou Miguel? Ou nenhum? O tempo dirá.
I – O PMDB ficou com apenas uma carta. Um carta também conhecida… O deputado federal Leonardo Quintão disputou a prefeitura em 2008. Eu acho que ele vai ser candidato. Não tem nada a perder. Pelo contrário. Falam de Josué Gomes, filho do ex-vice-presidente José de Alencar… Será? Ainda não incluo o nome dele no jogo. Há quem cite para mim os deputados federais Laudívio Carvalho e Rodrigo Pacheco. Não aposto nisso também.
J – O PSDB viu muitos tucanos voando para fora da mesa. 4 membros do partido estavam nas considerações e não estão mais. Restaram três. Portanto, o PT tem três e o PSDB também. O deputado estadual João Vitor Xavier, o deputado federal Paulo Abi-Ackel e o senador Antonio Anastasia. Esse último diz para todo mundo que não vai ser candidato. E eu acho que ele não vai ser mesmo. Todavia, que ele é a carta na manga de Aécio Neves ninguém pode negar. E se Antonio Anastasia entrar na disputa, não sobra quase ninguém para disputar com ele… O motivo é simples. A chance de vitória é enorme. O PT tem arcanjos e o PSDB tem apóstolos: Paulo e João. Paulo ou João? Querem minha sinceridade? Eu acho que nenhum dos dois será candidato. O PSDB fica sem nomes então? Não… Há dois nomes que podem se tornar tucanos até o dia 2 de abril de 2016, prazo final que já citei na abertura do texto. Alberto Pinto Coelho, do PP, foi presidente da Assembleia Legislativa, vice-governador e governador de Minas Gerais. Délio Malheiros, do PV, foi deputado estadual e possui o cargo de vice-prefeito de Belo Horizonte. Alberto e Délio podem passar a ter bicos e penas. O ex-governador está reunindo apoios para se filiar no PSDB e tornar-se o candidato a prefeito do time de Aécio Neves. O vice-prefeito vai disputar de qualquer jeito. Prefere virar tucano e ser o candidato apoiado por Aécio Neves. Já recebeu convite para se filiar… Todavia, se o acordo não se viabilizar, ele se candidata pelo PV mesmo. Assim o diz. Se o fará, só o tempo dirá. No caso do ex-governador, se a filiação no PSDB não se concretizar, ele estará fora da disputa. A movimentação de ambos é peça-chave na eleição.
K – O PSB do prefeito Marcio Lacerda não tem nenhum candidato. A tentativa de alavancar o nome do secretário de governo Josué Valadão, filiado a legenda, não deu certo. Hoje, todo mundo já cita o nome dele para vice. Ocorre que Marcio Lacerda não desistiu da ideia de ter um candidato próprio do PSB. Alguns jornais tem publicado dois nomes: Wilson Brummer e Paulo Brant, ambos empreendedores. Confira, por exemplo, o que publicou Bertha Maakaroun no jornal Estado de Minas. Eu gosto demais de Wilson Brumer. Ele é genial. Aliás, já contei publicamente que ele seria o candidato a prefeito no lugar de Marcio Lacerda em 2008. Quando Aécio Neves pensou em lançar alguém com o perfil fora da política, o nome de Wilson Brumer foi o primeiro a ser cogitado. Ele foi secretário estadual e tem muitos méritos. Sempre que posso, converso com ele e me aconselho. Foram providenciar a filiação no PSB. Ocorre que o domicílio eleitoral dele ficava em Brumadinho. Era tarde. Não dava mais tempo de transferir e, por conta disso, a vaga foi para Marcio Lacerda. Eu tenho uma notícia para vocês. O título dele continua lá. Risos. Podem riscar esse nome do jogo. O prazo para filiação partidária diminuiu para seis meses, mas o prazo para mudança de domicílio eleitoral permanece como um ano. Paulo Brant… Esse nome tem ganhado força. Será que vira carta? Há méritos. Vai dar tempo?
L – E há ainda nomes que estão na mesa. Eros Biondini é um deputado federal que pretende disputar a eleição. Este filiado no PTB, mas escuto que a mudança para outro partido é iminente. Seu desejo é estar ao lado de Aécio Neves. Se não for o nome escolhido, disputara ainda assim. Fred Costa é um deputado estadual do PEN que pode concorrer. Acredito que essas chances diminuem a cada dia e seu projeto tem se tornado mais estadual: além de lançar seu chefe de gabinete como candidato a vereador em Belo Horizonte, vai se dedicar a outras eleições no interior do Estado para fortalecer sua base eleitoral para 2018. Sargento Rodrigues é um deputado estadual filiado ao PDT. Pelo jeito, sua candidatura está se consolidando. Pretende receber o apoio de Aécio Neves também. Marcelo Álvaro Antonio, deputado federal pelo PRB, figura como candidato de um grupo de vereadores de Belo Horizonte liderados pelo presidente da Câmara Municipal, vereador Wellington Magalhães, do PTN, no intuito de lançar um candidatura para fortalecer o coletivo no jogo. O PHS possui 4 possíveis candidatos: o deputado federal Marcelo Aro, o Presidente da Federação Mineira de Futebol, Castellar Neto, o empresário Alexandre Gribel e o empresário e ex-deputado federal Vitório Medioli. O PSOL também está na área com Fidélis Alcântara e Maria da Consolação. O PCdoB também tem o deputado estadual Mario Henrique Caixa, caixa, caixa…
Numa negociação muito delicada, não se deve apresentar de uma só vez as condições ou exigências estabelecidas por cada parte. Tancredo Neves
M – Temos os jogadores, temos as cartas e temos um prazo. Há também uma negociação muito delicada. Dos quatro jogadores que estão na mesa, volto a perguntar, podemos esperar uma partida de duplas, de todos contra todos ou de outro tipo de conflito?
N – Acho que Fernando Pimentel e Antonio Andrade vão fingir que jogam em dupla, mas jogarão separados. O clima entre PT e PMDB é realmente muito ruim. Aposto numa candidatura do PMDB, como já apostava no último texto. E aposto no mesmo nome ainda: Leonardo Quintão. Aposto também numa candidatura do PT. Ainda não sei dizer quem. Mesmo que seja para marcar posição… Atualmente o PT possui seis vereadores. Quem entende, acha que esse número cai pela metade. Uma candidatura própria pode ajudar. Ao mesmo tempo, Fernando Pimentel deve estimular outras candidaturas que empurrem a disputa para o segundo turno, como a do seu secretário Mario Henrique Caixa. Imagina ele que ao fim do primeiro turno, restarão dois polos na disputa e, do outro lado, estará Aécio Neves, quem ele deseja que seja derrotado.
0 – A situação de Marcio Lacerda e Aécio Neves é mais complexa do que pode parecer. Os dois lados vivem sinalizando que estarão juntos. Antonio Anastasia, sempre muito elegante, diz que pombas e tucanos vão voar juntos. Sei… Pode ser. Todavia, as pombas e os tucanos estão se desentendendo nos bastidores.
P – O PSDB faz questão que a cabeça de chapa seja do partido. E enumera motivos: 1) em 2008, o PSDB apoiou Marcio Lacerda mesmo nem estando na coligação formal. O cabeça de chapa era do PSB e o vice do PT. 2) em 2012, o PSDB se coligou formalmente, mas novamente o cabeça de chapa era do PSB e o vice do PV. 3) nos quase oito anos de gestão, mesmo apoiando solidamente Marcio Lacerda, o PSDB não ocupou cargos de destaque ou em quantidade satisfatória, de acordo com o partido, na gestão municipal. 4) se Marcio Lacerda deseja ser mesmo candidato a governador, ele precisa aprender a caminhar como um grupo, afirmam tucanos de alta plumagem. 5) se optar por não estar com o PSDB, o partido não se coliga e lança Antonio Anastasia, garante uma quantidade grande de filiados.
Q – Ocorre que o PSB, leia-se Marcio Lacerda, faz questão de algumas coisas. Sobretudo impõe, como já mencionei, características que devem ser preenchidas pelo candidato. Ninguém fala isso expressamente, mas os nomes de Alberto Pinto Coelho e Délio Malheiros, por exemplo, não agradam vários membros do PSB que cercam Marcio Lacerda. E a osmose me faz crer que essa opinião veio dele. Se não são Alberto Pinto Coelho e Délio Malheiros, restam João Vitor Xavier e Paulo Abi-Ackel no PSDB, nomes igualmente longe de agradar o prefeito.
Mineiro usa sola de borracha para não dar esmola a cegos. Autor Desconhecido
R – Enquanto a campanha americana para presidente consegue nos fornecer uma enorme riqueza de detalhes dos candidatos, por aqui, pouco se diz… Notem, portanto, que o PSDB e o PSB querem entrar, ou parecem querer entrar, num acordo, mas os termos complicam o contrato. O que ficou combinado na última segunda-feira quando Aécio Neves e Marcio Lacerda se encontraram? Nas cinco semanas de março, os dois lados vão contribuir com nomes para uma lista. Tais nomes passarão por pesquisas qualitativas. Vejam vocês que parece que alguém se lembrou que há eleitores na cidade. Risos. Uma vez considerados os números, a decisão começa a amadurecer… A mim, parece conversa para boi dormir. Mera estratégia para ganhar tempo. Claro, o tempo é precioso nessa negociação.
S – Pode ser que as conclusões da dupla tão somente filie os candidatos, ou no PSB, ou no PSDB, mas não configure de fato uma chapa. As pistas, todavia, serão enormes uma vez encerrado o prazo.
T – Há uma hipótese remota, mas que gostaria de apresentar. A ausência de um acordo que resulte no lançamento de um candidato apoiado por Aécio Neves e outro apoiado por Marcio Lacerda. Remota, insisto, mas não impossível. Mais curioso ainda seria ver ambos indo para o segundo turno.
U – Falei de cartas e não mencionei o coringa! Já havia o citado no último texto. Alexandre Kalil está com sua carta de filiação partidária pronta. Ele embola o jogo? Embola demais. Vou repetir: estamos falando de uma campanha curta e com poucos nomes conhecidos. Em trinta dias de televisão, considerando o desgaste da classe política e a vontade por novidades que o eleitor tem, a mistura promete. Nos próximos dias, seu partido será revelado. E, independente da legenda, ele segue independente…
V – Notem que há pouco a mudar no campo do PT e do PMDB, mas tudo pode acontecer no campo do PSDB e do PSB. Eu sublinho dois nomes: Alberto Pinto Coelho e Paulo Brant. Se o primeiro se filiar no PSDB até 2 de abril, podem saber… E se o segundo começar a aparecer mais nas notícias, idem. O fato é que o primeiro é da confiança de Aécio Neves e o segundo é da confiança de Marcio Lacerda. Nesse jogo, quem vai falar “boi” primeiro?
X – Eu só não espero nesse processo exclamar “Será o Benedito?”! Por que, definitivamente, Belo Horizonte não merece um candidato que nem a mãe espera que seja prefeito. Faltam seis semanas para o prazo que apresentei acima e acho que esse texto basta até o fim do prazo. Escreverei outro depois que todas as peças estiverem dispostas, é claro. E acho que vamos excluir mais cartas da mesa.
W – Há outras questões que estão conectadas nesse processo: a coligação para chapas de vereador, a formação dos blocos com tempo de televisão e a distribuição de quinhões na máquina pública.
Y – Eu lamento profundamente uma coisa. Você viu nesse texto algo sobre a mobilidade urbana? Falei sobre o saneamento básico na cidade? Mencionei sustentabilidade, cultura, transparência, inovação e civilidade? Nem mesmo espaço para o famoso trio saúde, segurança e educação sobrou, certo? Esses assuntos da cidade, que aliás tenho mencionado quase diariamente nas mídias sociais e na rádio (sim, passei a falar diariamente na 102,9 FM) passam longe do processo eleitoral. E isso é muito lamentável. Há menos de um ano da disputa, não há programa de governo sendo debatido, ideias sendo conectadas e temas sendo colocados. Não é por falta de necessidade. Diante da gravíssima crise política que passamos, ser prefeito de uma capital como Belo Horizonte exige um planejamento colossal! Estamos falando da vida de quase três milhões de pessoas! Estamos falando de problemas graves que se arrastam sem solução. E estamos falando de uma cidade que respira política, mas parece não ter vez no processo eleitoral até agora.
Z – Eu confio na capacidade do mineiro de espiar. Espero que esse texto contribua para que as engrenagens da política fiquem mais claras para o cidadão e para o eleitor. Falta pouco para você gastar quatro segundos na urna digitando dois números para um candidato a prefeito e cinco números para um candidato a vereador. Acredite, esses quatro segundo fazem diferença brutal por quatro anos. Não desperdice seu tempo.