Plano Diretor existe para planejar a cidade e não para arrecadar
A presidente da Câmara Municipal de Belo Horizonte, vereadora Nely Aquino, quer que o projeto do
Plano Diretor da capital, já aprovado em primeiro turno, seja apreciado em segundo turno até junho. É uma boa notícia, pois teremos, finalmente, a apreciação da lei mais importante de um município. A
votação é fundamental para a regulação da ocupação de uma cidade com mais de 2,5 milhões de
habitantes e com problemas sérios de uso do solo.
Aguardo com expectativa a inclusão do projeto na pauta. Em primeiro lugar, por entender que é
inaceitável uma proposta de lei ficar tanto tempo parada no Legislativo. O projeto do Plano Diretor foi encaminhado à CMBH pelo então prefeito Marcio Lacerda em 2015, mas não avançou. Em 2017, a nova administração municipal anunciou que encaminharia um substitutivo ao projeto, mas só o fez em 2018. Apenas em novembro do ano passado a proposta foi aprovada em primeiro turno pela CMBH.
Também espero que a votação em segundo turno dê aos vereadores a oportunidade de debater o tema com a profundidade necessária, sem atropelos ou uso do rolo compressor da bancada de base para aprovar a iniciativa. Não foi isso o que presenciamos no primeiro turno, com uma votação atropelada, sob pressão governista. Há questões muito importantes na proposta do Plano Diretor, que vão impactar o futuro da capital. O documento deve ser minuciosamente avaliado, para não causar danos irreparáveis à construção de uma cidade mais sustentável e harmônica.
A principal polêmica do projeto é o estabelecimento da outorga onerosa para novas edificações na cidade. A outorga onerosa concede à Prefeitura o direito de cobrar um valor de quem desejar erguer um imóvel acima do coeficiente de aproveitamento básico. Pelas normas fixadas no projeto em tramitação na Câmara Municipal, a cidade passará a ter um único coeficiente de aproveitamento básico, com o valor 1. Quem quiser construir acima desse limite terá que pagar ao município.
A regra é válida para todos, desde empreendimentos maiores, comerciais, industriais ou residenciais, a proprietários de um imóvel único que queiram aumentar a área construída porque a família cresceu ou por qualquer outra razão. A Prefeitura defende que a arrecadação proveniente do pagamento da outorga onerosa permitirá ao município investir na construção de moradias populares, reduzindo o déficit habitacional. Mas esse argumento não tem o poder de encerrar a discussão e a aprovação de emendas para a aprimoramento da norma, principalmente pelos prejuízos que pode causar.
Apresentei várias emendas ao Plano Diretor, algumas específicas para a outorga onerosa, para aprimorar a norma. Da maneira como está, a outorga onerosa é prejudicial à cidade e terei que votar contra a aprovação do projeto. Gravei 10 vídeos explicando o Plano Diretor, além de 46 produções para detalhar as emendas que fiz ao Plano Diretor. Estudei o assunto com profundidade, para não cometer erros em votação tão importante. Vocês podem conferir no YouTube: youtube.com/gabrieldeazevedo.
Entendo, como cidadão e político belo-horizontino, que a outorga onerosa visa apenas criar mais uma fonte de arrecadação para os cofres públicos, sem levar em consideração o bem-estar da população e o futuro da cidade. Legislação mais importante de um município, pois fixa normas para o crescimento urbano, o Plano Diretor deve atender a toda a população. Por esta razão, votarei contra o projeto se não houver como aprimorar o que está sendo proposto.
Coluna Jornal O Tempo – 26/04/19