o mais admirável dos políticos (falecido 50 anos atrás)
A política sempre foi uma atividade complexa. Para exercê-la, considero condição fundamental possuir referências. O político que eu mais admiro chama-se Winston Churchill. Ele era perfeito? Quem é? Conheço suas falhas, mas prefiro ressaltar suas virtudes. Nesse ano, completam-se 50 anos da sua morte. Não visitei o seu túmulo, mas, nessa sexta-feira, 10 de julho de 2015, estive no Palácio de Blenheim, nos arredores de Oxford, no Reino Unido, onde ele nasceu, e resolvi compartilhar um pouco dos motivos que me fazem admirá-lo. Hoje em dia, princípios, coragem, autenticidade, posicionamento, eloquência, resiliência, bom humor, senso de dever e inteligência são características raras nos políticos. Poderíamos encontrar tudo isso nele. Não satisfeito em conhecer o lugar, certamente pagarei pelo excesso de peso na bagagem. Nela, agora segue um busto de bronze de Winston Churchill adquirido para a minha biblioteca.
Não passamos de minhocas, mas acredito ser uma minhoca que brilha. Winston Churchill
A – Essa minhoca iluminada nasceu em 30 de novembro de 1874. Seu pai era inglês e sua mãe era americana. Não se tratava de um homem simples, é verdade. Seu nascimento, ocorrido num palácio suntuoso, se deu no seio de uma família importante e aristocrática chamada Marlborough.
B – Durante sua infância, os pais foram muito ausentes. As amas de criação passavam a maior parte do tempo com ele. Na escola, não era uma aluno brilhante. Pelo contrário! Ele tinha pavor a disciplinas como matemática. A paixão de Winston Churchill sempre foi história. Nessa disiplina, ele era muito aplicado. Dos dois aos seis anos de idade, viveu em Dublin, na Irlanda, para onde voltei após passear na Ingalterra nessa sexta-feira. Dizem que seu facínio por questões militares se iniciou aqui vendo desfiles…
C – Após completar os estudos, ingressou na Academia Militar de Sandhurt. Enquanto soldado, aprimorou a escrita e a leitura, o que não se espera tanto de um militar. O fato é que, durante as expedições que realizou (de Cuba à Africa do Sul), o jovem lia de tudo que se possa imaginar.
D – Winston Churchill logo se tornou jornalista. Foi correspondente de guerra do Daily Telegraph. Seus textos, relatando o cotidiano que ele presenciava, conquistaram leitores e admiradores. Durante a Guerra dos Boers, ele foi feito prisioneiro político na capital sul-africana e conseguiu fugir. Obivamente, escreveu a respeito. O relato da sua fuga lhe rendeu duas coisas: dinheiro e um pontapé na carreira política.
E – Em 1900, com 26 anos de idade, Winston Churchill foi eleito deputado da Câmara dos Comuns pelo partido conservador. O jovem parlamentar era visto como arrogante, petulante e preponte pela maioria dos seus pares. Seus discurssos incomodavam muito os membros da própria legenda.
F – No parlamento inglês, as bancadas da oposição e da situação ficam em diferentes lados. Quando alguém muda de partido, se diz que o parlamentar atravesou o chão (cross the floor). Em 1904, Winston Churchill deixou de ser conservador para ser liberal sem cerimônias. Foi chamado de oportunista, egoísta e egocêntrico. Em 1924, os conservadores estenderiam o tapete vermelho para recebê-lo de novo. Parece pura conveniência, mas o que fez o deputado deixar seu partido foi o fato da legenda ter abandonado princípios que possuia no discurso, mas não aplicava na prática (no caso, protecionismo de mercado contradizendo as raízes liberais). O político nunca colocou o partido acima daquilo que acreditava.
G – Em 1905, Winston Churchill exerceu o cargo de subsecretário de colônias. Em 1908, exerceu o cargo de Ministro do Comércio. E, em 1914, exercendo o cargo de Primeiro Lorde do Almirantado (comandante das forças navais) durante a 1ª Grande Guerra Mundial, muitos poderiam afirmar que sua carreira teria chegado ao fim. Winston Churchill planejou e executou a operação conhecida como Campanha de Gallipoli. Em resumo, esquadras britânicas deveriam seguir pelo Mar Mediterrânia para capturar Constantinopla (hoje Instambul) do Império Otomano (hoje, grande parte da Turquia). A ideia dele se relevou um desastre que resultou em muitas e muitas mortes de britânicos. Ninguém apaga 35.000 mortes do currículo. Ele perdeu o cargo e parecia ter o mesmo destino do pai que chegou a ministro, renunciou e morreu aos 46 anos de idade como um político sem muita expressão. A história, contudo, não termina aqui.
O sucesso é ir de fracasso em fracasso sem perder entusiasmo. Winston Churchill
H – O deputado continuou sendo reeleito. Em 1928, se tornou Ministro da Fazenda. Todavia, uma crise econômia gerou muito desemprego no ano seguinte. A Bolsa de Valores de Nova Iorque quebrou e mergulhou o mundo numa crise… Seu partido perdeu a maioria e ele perdeu o cargo. Estava em maus lençóis novamente. Esse homem parecia condenado a estar sempre no olho do furacão.
I – Em 1930, com 56 anos de idade, Winston Churchill estava fracassado. Era odiado por onze entre cada dez dos membros do parlamento, visto como alguém responsável por um desastre militar e um desastre econômico e, além disso, não tinha suporte dos partidos por que deixava claro seu desprezo por eles.
J – Foi então que, do outro lado do mar, um certo Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães começou a ascender. Um certo Adolf Hilter se tornou chanceler e seu inflamado discurso condenava o comunismo e os judeus. Depois da crise econômica, a maioria dos ingleses pensava em recuperar o país e tinha horror só de imaginar a possibilidade de outra guerra. Winston Churchill foi o primeiro a identificar no nazismo uma grande ameaça. Nos anos seguintes, ele pronunciava-se sobre o assunto todas as semanas diante do completo desabono dos seus pares.
K – Em 1939, e vale dizer que ele bem tinha avisado, as tropas nazistas invadiram a Polônia. O então primeiro-ministro britânico, Neville Chamberlain, estava errado ao imaginar que os alemães só queriam a paz mundial. Em 1940, Winston Churchill era nomeado primeiro-ministro pelo rei George VI, (cuja história, sobretudo pela gagueira, vale ser conhecida) pai da rainha Elizabeth II, atual rainha.
L – Não foi de maneira fácil que Winston Churchill se tornou primeiro-ministro. Durante cinco dias daquele ano, no gabinete de governo, existiram duas teorias. Um dos ministros (Lorde Halifax, que também queria o posto) queria compor com a Alemanha. Outro, o próprio WInston Churchill, queria a guerra. Imaginem um mundo onde a Inglaterra houvesse composto com a Alemanha! As palavras de Winston Churchill foram suas armas naquele momento. Para o bem da democracia.
Um apaziguador é alguém que alimenta um crocodilo esperando ser o último a ser devorado. Winston Churchill
M – Em 1940, os Estados Unidos não tinham entrado na guerra. Em 1940, a União Soviética não tinha entrado na guerra. Em 1940, o Reino Unido combatia a Alemanha sozinha. Era uma batalha pessoal entre Winston Churchill e Adolf Hitler. Ambos entendiam que aquilo era um teatro e os dois eram os atores que se antagonizavam. Atores mesmo. Tanto um quanto o outro possuiam habilidades cênicas e teatrais. Seriam necessário muitas outras postagens para destacar os principais discursos de Winston Chruchill. Ele acreditava na luta do bem contra o mal. E acreditava que o bem venceria no fim. Talvez, por isso, subia no topo dos prédios durante a noite enquanto Londres era arrasada nos ataques aéreos com fé de que uma bomba não cairia sobre sua cabeça. (Outro passeio imperdível em Londres é o bunker donde Winston Churchill comandou a ação. Com o fim da guerra, o ambiente foi lacrado e preservado como estava.)
N – Em 1899, Winston Churchill publicou um romance onde um herói combatia um ditador num país imaginario e vencia. Parecia uma visão. Na verdade, ele sempre acreditou que teria um papel reservado na história. Isso já é meio caminho, considero. Tratava-se de um orador brilhante. Há um livro dele (The Scaffolding of Rethoric) onde ele reune dicas para se discursar em público: voz clara, frases sonoras, pensamento teatral e ideias poderosas.
0 – Winston Churchill se considerava um artista. Não apenas pelas telas que pintava (e pintou muitas). Ele consdierava a política uma arte. E isso falta nos dias atuais: gente que faz da política uma arte. A política é um enredo, uma tela, um romance ou um filme. A política é pura arte. Adolf Hitler achava o mesmo. Encontrou um artista melhor que ele. Aliás, poucas coisas divertiam mais o premiê britânico do que saber o que as pessoas falavam mal dele, sobretudo de adversários como Adolf Hitler.
P – Há muito a se dizer sobre a 2ª Grande Guerra Mundial, mas basta falar que Winston Churchill fez os aliados acreditarem na vitória. E eles venceram por isso. A genialidade do Dia D não existiria sem a fé que ele imbutiu nas pessoas. Há momentos na vida em que você simplemente não pode abrir mão de algumas pessoas. Ele foi o homem certo no lugar certo na hora certa.
Q – E, muito embora tenha se tornado um herói, as eleições de 1945 derrotaram o seu partido após a guerra.
A política é quase tão excitante como a guerra e não menos perigosa. Na guerra a pessoa só pode ser morta uma vez, mas na política diversas vezes. Winston Churchill
R – Sua mulher disse que aquela havia sido uma bençao disfarçada. O político sempre irônico respondeu que estava muito bem disfarçada. Aliás, aprendi no palácio uma história curiosa. Quando Winston Churchill decidiu que ia se casar, disse para a então namorada o aguardar num dos jardins do Palácio de Blenheim. A moça foi. O sujeito caiu no sono e deixou ela esperando… Um primo o salvou, levando a pretendente para cavalgar. Pouco antes da cavalgada terminar, Winston Churchill acordou e foi em busca da amada. Sentaram-se num banco. Ele, muito tímido, nada falava. Depois de meia hora, a mulher começou a observar um besouro no chão e se prometeu que, se o inseto terminasse seu roteiro até o fim do azulejo e ele não tivesse dito nada, ela iria embora. Por sorte, o britânico pediu e ela aceitou.
S – Winston Churchill morreu no dia 24 de janeiro de 1965, atingido por um derrame, mesma data em que seu pai havia morrido setenta anos antes sem obter sucesso. O fato do pai não ter sido grandioso perseguiu o político durante toda sua vida. As cenas que mostram o velório dele dão ideia do que esse homem representou para o seu povo. O Reino Unido nunca viu alguém ser tnao agradecido.
T – Ao caminhar pelo palácio, eu ficava imaginando o que seria de um Winston Churchill atualmente. No Brasil, imagino que sua vida pública seria complexa. Imaginem: ele nasceu rico. Bem, isso já seria um crime. Ele também decidiu se instruir e se preparar academicamente… Ou seja,além de burguês, trata-se de um sujeito que é acadêmico. Num lugar, onde a maior parte dos políticos recusa a educação formal e faz de tudo para parecer “alguém do povo” (mesmo que não seja), uma figura assim incomoda. Sobretudo, o maior “crime” que poderia cometer atualmente seria o fato de ser politicamente incorreto. Imaginem… Certa vez, uma deputada disse que se ele fosse marido dela, ela colocaria veneno no seu chá. Ele disse que se fosse realmente o marido dela, beberia com prazer! Ainda, uma outra chamou ele de bêbado. Ele respondeu dizendo que ela era feia e assim pemaneceria no dia seguinte quanto ele já estaria sobrio. Imaginem isso no Congresso Nacional! Não preciso nem citar o nome, nem o partido, das senhoras que estaram arrancando os cabelos por conta de uma piada!
U – Vou além! Hoje em dia, Winston Churchill seria visto como um radical. O mundo tem sido tomado por governos que rumam o totalistarismo com passos largos ou já o vivem em plenitude. Se o político estivesse vivo, certamente estaria discursando contra a ausência de democracia em vários cantos do planeta. Poderiam acusá-lo de não tolear governos diferentes. O curioso é´que só pessoas como ele garantem a outros idiotas a capacidade de deixar a demcoracia ser tão maltratada.
V – Há tanto que popde ser falado sobre esse sujeito, que confesso me perder. Imaginem alguém que gostava de ficar até tarde na cama, onde escrevia seus textos, entre uma golada de uísque e uma baforada de charuto. O personagem é completo.
X – Antes de morrer, Wisnton Churchill recebeu o Prêmio Nobel de Literatura e previu a Guerra Fria.
W – O nazismo, na minha opinião, foi a pior coisa que o mundo já viu. Derrotá-lo foi a melhor coisa que alguém já fez. Nada pode ser pior que o totalitarismo. Nada. Seja no passado, no presente, ou no futuro.
Y – Muitas pessoas podem imaginar que ele amava a guerra. Ninguém inteligente ama a guerra. Ele passou anos tentando alertar as pessoas a respeito dela para evitá-la. Custa muito à sociedade não ouvir certas pessoas.
Z -Além do busto de bronze, comprei um livro chamado O fator Churchill (The Churchill Factor: How One Man Made History) de Boris Johns, em comemoração aos 50 anos da sua morte. Prometo escrever mais sobre ele assim que terminar. Essa admiração por ele não tem fim.