Economia, pandemia e pobreza
O crescimento do número de infectados e mortos pela Covid-19 no Brasil não dá sinais de arrefecimento, em uma crise sanitária sem paralelo. Ao mesmo tempo, a economia passa pela chamada “tempestade perfeita”, quando ocorre a convergência de inúmeros fatores negativos ao mesmo tempo, criando um cenário severo de recessão e aumento da pobreza. Para culminar, temos um governo federal aquém do que merecíamos e cada vez mais isolado, com o qual não podemos contar nas unidades federativas e municípios.
Na quarta-feira, o Fundo Monetário Internacional (FMI) informou que a retração do Produto Interno Bruto (PIB) do nosso país em 2020 será de 9,1%. Anteriormente, a estimativa era de queda de 5,3%. E a contração de 9,1% pode não ser o fundo do poço. Há quem preveja que vamos chegar à situação da Itália, que, em abril, teve previsão de queda do PIB semelhante à divulgada pelo FMI para o Brasil nesta semana e agora trabalha com diminuição ainda mais drástica, de 12,9%, também conforme o Fundo.
Mesmo se considerarmos a avaliação do FMI rigorosa em excesso, o cenário é grave demais para não trabalharmos com a possibilidade real de que União, unidades federativas e municípios não tenham condições de honrar seus compromissos com a população, por insolvência financeira. E, para continuarmos nas comparações com fenômenos climáticos, esse tsunami de recessão e pobreza atingirá de forma mais violenta as cidades, que têm a responsabilidade de atender as demandas por educação, saúde e saneamento.
Soluções
É fundamental que nós, representantes municipais, busquemos soluções para incentivar a retomada de economia local, com a consequente geração de trabalho e renda. Diante da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que, ao interpretar a Constituição, proibiu a redução das remunerações dos servidores públicos, temos que debater e propor soluções para evitar uma tragédia social e econômica de dimensões ainda maiores.
É o que estou fazendo. A Comissão Especial de Estudo – Enfrentamento da Covid-19, criada pela Câmara Municipal por solicitação que apresentei, e presidida por mim, já realizou sete reuniões para discutir como a economia de Belo Horizonte retomará suas atividades pós-pandemia, quais medidas devem ser adotadas pelo Poder Executivo para dar mais sustentabilidade aos segmentos econômicos da capital e de que forma o Poder Legislativo pode contribuir para solução das dificuldades econômicas atuais.
As três últimas sessões dessa comissão, com a presença de empreendedores e entidades de classe, debateram o que fazer em relação a três segmentos importantes para a capital: bares e restaurantes; eventos e turismo; e galerias e shoppings. Não é só salvar empregos. Falamos de um trio de setores que compoem patrimônio cultural da humanidade reconhecido pela Unesco.
Foco
Entendo que o diálogo é a forma mais eficaz de superar os reflexos da pandemia. Se não houver união de esforços do poder público e da sociedade, a recuperação será mais difícil e lenta. Ou pior: não ocorrerá. As pessoas não acreditam, mas a história mostra: civilizações ruem. Desaparecem. E podem ser soterradas pelos fatos.
Esta é a política correta para que tenhamos sucesso no enfrentamento da pandemia e de suas consequências. Os interesses eleitorais, partidários e pessoais têm que ser esquecidos. O foco é o interesse público. A realidade sanitária e econômica exige o comprometimento de todos os detentores de mandatos. É o meu compromisso desde a eleição de 2016. Precisamos prevalecer. Vamos prevalecer.
Publicado em Jornal O Tempo em 26/06/2020.