e-lixo, preocupação cada vez mais presente
O que fazer com as baterias daquela câmera de ação que já não podem mais ser recarregadas? E as pilhas dos controles remotos da garagem, da TV ou do ar condicionado? O velho computador encostado em casa não é usado há tempos, mas você não tem ideia do que fazer com ele? Pois bem, esta preocupação não é apenas sua, mas de todo o mundo, cada vez mais dependente da tecnologia e, por isso, produzindo mais e mais lixo eletrônico, cujo descarte ecologicamente correto é dispendioso e pouco difundido no Brasil e em outros países em desenvolvimento.
A – Estudos elaborados pela Organização das Nações Unidos (ONU) apontam que, em 2017, a humanidade irá gerar 50 milhões de toneladas de lixo eletrônico, e o Brasil tem uma parcela importante nessa montanha de resíduos, sendo responsável pela produção de 1,4 milhão de toneladas desse tipo de lixo (dados referentes a 2014). Na América Latina, nosso país é o campeão de descarte. O continente produz 9% do lixo eletrônico do planeta e, como o Brasil, o problema é a destinação dos resíduos.
B – Além da quantidade imensa de lixo eletrônico, chama a atenção nos dados do Programa para o Meio Ambiente da ONU (Puma) a percentagem desse tipo de descarte que é comercializado de forma ilegal, sem normas de segurança que assegurem a proteção do meio ambiente e das pessoas. A estimativa é de que 60% a 90% do lixo eletrônico são comercializados de forma ilegal ou descartados na natureza. A poluição decorrente dessa prática é preocupante.
C – Metais pesados como chumbo, cádmio e mercúrio estão presentes no lixo eletrônico e podem poluir o solo, as fontes de água e o ar. Um exemplo desse risco vem da França, onde, de acordo com autoridades ambientais, 40% do lixo eletrônico estão contaminados com bromo, altamente prejudicial à saúde. O bromo é usado em equipamentos diversos para impedir que o plástico usado na fabricação de algumas peças pegue fogo.
D – Desde 2010, o Brasil tem legislação que normatiza o descarte de lixo eletrônico e seu recolhimento correto. Entretanto, a maioria das cidades não disponibiliza para a população e as empresas um sistema público de coleta desse material. Em Belo Horizonte, a PBH tem iniciativas em parceria com algumas empresas para o recolhimento desse tipo de sucata, e também há empresas que se oferecem para retirar os produtos, mas nada em escala capaz de evitar o descarte incorreto e os graves riscos ao meio ambiente.
E – A responsabilidade pelo recolhimento adequado do lixo eletrônico não cabe apenas aos órgãos públicos. A população também tem a obrigação de dar sua contribuição. E como fazer isso? Se você tem algum produto eletrônico que não usa mais e pretende descartar, deve entrar em contato com instituições que possam reutilizar o equipamento. Também é possível fazer o descarte nos postos de recolhimento. Para prolongar a vida útil dos eletrônicos e evitar seu desgaste, eles devem ser usados de forma consciente, desligados da tomada quando não estão em funcionamento.
F – Outra forma de reduzir o descarte incorreto do lixo eletrônico, ou e-lixo. é incentivar a indústria de reciclagem, que tem um mercado potencial com grande capacidade de crescimento, além de contribuir efetivamente para a preservação do meio ambiente. A ONU calcula que o mercado de resíduos eletrônicos movimente anualmente algo em torno de US$ 400 bilhões, o que gera oportunidades milionárias de negócios.
G – No Brasil, outros números apontam para o tamanho potencial desse mercado: empresas especializadas avaliam que cerca de 500 milhões de equipamentos eletrônicos que não têm mais utilização estão guardados em lares brasileiros. Isso abrange desde celulares e pequenos ventiladores a geladeiras e ar-condicionado. O país detém uma taxa de reciclagem de apenas 2%. Ou seja, 98% do e-lixo produzido no Brasil não chegam até a indústria de reciclagem. Desta forma, não geram emprego e renda e se transformam em fonte de poluição.
H – Em síntese, o que temos é um problema cujas proporções aumentam a cada dia, com o uso cada vez mais disseminado da eletrônica. Ainda há a falta de estrutura que impede o recolhimento adequado dos equipamentos, e isso só eleva o risco de contaminação da natureza e ameaça a saúde das pessoas, pois a percentagem de metais pesados e outros produtos tóxicos é elevada.
I – Em contrapartida, a possibilidade de geração de renda com a reciclagem é alta, fator de atração de investidores. Além disso, a reutilização de componentes eletrônicos é algo básico quando se fala em sustentabilidade e cada vez mais gente se alista na defesa de uma sociedade menos consumista e preocupada com a preservação dos recursos naturais. Assim, temos a oportunidade de dar a destinação correta à sucata eletrônica, gerar emprego e inclusão social e reduzir a destruição ambiental.