E daí, Brasil?

De acordo com dados oficiais do Ministério da Saúde, 5.500 brasileiros morreram contaminados pela Covid-19 até o último dia 29. “E daí?”, questiona o presidente Jair Bolsonaro, omitindo-se uma vez mais de sua responsabilidade como chefe da nação e, mais que isso, expressando sua falta de empatia pelas vítimas da pandemia do novo coronavírus no Brasil.

Não foi a primeira manifestação de desprezo do presidente diante da dor das pessoas que ele jurou proteger ao ser empossado. Antes do registro dos primeiros casos de Covid-19 no país, Jair Bolsonaro já procurava negar a gravidade da pandemia, criticando o que chamava de “histeria” e contrariando as orientações da ciência, participando de aglomerações e confraternizando com seguidores, descumprindo as regras sanitárias mais básicas.

Esse não é o comportamento correto de um homem público. Quem ocupa cargo político tem o dever de se importar com o bem-estar de quem representa. Como homem público, eu me importo. Meus sinceros sentimentos a quem perdeu um parente ou um amigo querido. Numa democracia, cada vida importa – aquelas que perdemos e aquelas cuja invisibilidade foi atenuada agora.

Entretanto, é obrigação ir além da solidariedade com a perda de vidas, a dor emocional e as dificuldades econômicas que a pandemia causou e ainda causará. É necessário trabalhar para que esse sofrimento seja mitigado o mais depressa possível. É o que tenho feito desde que recebi autorização dos médicos para retomar minhas atividades, após ter sido contaminado pelo novo coronavírus.

Com a suspensão das atividades da Câmara Municipal de Belo Horizonte em razão da pandemia, transformei minha biblioteca em gabinete e de lá tenho despachado diariamente, conversando com a população e encaminhando propostas para ajudar nossa capital a se recuperar da crise. A equipe do meu gabinete também trabalha em casa, atendendo as demandas de quem nos procura.

Na terça-feira, em reunião especial online requerida por mim, foi criado o Conselho da Cidade – Superando a Covid-19, com a participação de representantes da sociedade civil. O objetivo do conselho é oferecer soluções coletivas e apoiar os setores produtivos da capital. Nesta sexta-feira, quando se comemora o Dia do Trabalho, é necessário informar que buscamos soluções que gerem trabalho e renda no período pós-pandemia.

A Câmara Municipal, a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), a Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL), a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) e o Sindicato do Comércio Lojista (Sindilojas) ainda vão compor o Comitê Pós-pandemia criado pela Prefeitura de Belo Horizonte para que o isolamento social seja modificado quando for possível, sempre respeitando os dados da pandemia, a ciência e a medicina, sem colocar a vida das pessoas em perigo.

E continuo a exercer o trabalho de fiscalização do Executivo. Participei de reunião online com o secretário municipal de Saúde, para me informar sobre o andamento de ações de combate ao vírus. Encaminhei ofícios para saber qual o número de respiradores disponíveis na capital e em que pé. Também pedi esclarecimentos sobre a antecipação de R$ 44 milhões para as empresas de ônibus da capital.

Em minhas mídias sociais, publico informações de utilidade pública sobre a doença, divulgo negócios locais, de restaurantes e lanchonetes a lavanderias e outros serviços de delivery, participo de lives com especialistas e economistas, apoio iniciativas solidárias. A solidariedade e a empatia não são reféns do isolamento social. É nisso que acredito.

Publicado em Jornal O Tempo em 01/04/2020.