Democracia: livros e praças
Dez meses de reflexão sobre grandes autores em BH
Neste domingo, quando os participantes da dinâmica “Democracia: livros e praças” se encontrarem na praça Floriano Peixoto, no bairro Santa Efigênia, concluiremos uma das atividades mais importantes que desenvolvi em 2019. Durante dez meses, desde fevereiro, nos reunimos em dez praças da capital. Em cada uma debatemos um livro fundamental para que as pessoas compreendam a importância e a necessidade de se defender a democracia.
A proposta surgiu em 2018, quando eu e o professor e consultor Augusto de Franco entendemos que deveríamos agir para disseminar os ideais democráticos, principalmente em razão das ameaças cada vez maiores ao Estado de direito, no Brasil e em outros países. Relacionamos dez obras vitais para a compreensão da democracia e deliberamos que iríamos percorrer as regiões de Belo Horizonte para debater o tema, inspirados nas assembleias da Atenas Antiga.
Mais de mil pessoas se inscreveram, entre as quais selecionamos cerca de 500. Cidadãs e cidadãos dispostos a abrir mão, a cada mês, de uma manhã de domingo para discutir democracia e entender como cada um pode agir politicamente para consolidar o sistema democrático na cidade onde vivemos. A praça do Papa foi o local da primeira dinâmica. Em pauta, “O Julgamento de Sócrates”, do jornalista e escritor norte-americano I. F. Stone.
Em março, os participantes se reuniram na praça Raul Soares. Em discussão, “Tratado Teológico-Político”, de Baruch Spinoza. Importante destacar que a cada evento as pessoas inscritas se tornaram mais autônomas e passaram a decidir, de forma democrática, os passos seguintes. “A Democracia na América”, de Alexis de Tocqueville, foi analisado na praça Carlos Chagas, no bairro Santo Agostinho.
Para debater “Sobre a Liberdade”, de John Stuart Mill, a dinâmica foi marcada na praça da Liberdade. Entretanto, em razão de manifestação, foi transferida para os jardins da catedral da Boa Viagem. Já a quinta obra foi “Democracia Cooperativa”, de John Dewey, na praça Alberto Dalva Simão, na Pampulha. Em julho, na praça Godoy Betônico, no São Bento, analisamos “O que É Política”, de Hannah Arendt.
A praça do Cristo Redentor, no Barreiro, foi escolhida para discutir “A Invenção Democrática”, de Claude Lefort. “Sobre a Democracia”, de Robert A. Dahl, teve como palco de debates a praça João Alves, em Venda Nova. Em outubro, na praça de Santa Tereza, o tema foi “Amar e Brincar”, do pensador chileno Humberto Maturana. E para encerrar o projeto, neste domingo, foi escolhido o artigo “A Democracia como Valor Universal”, do economista e filósofo indiano Amartya Sen, vencedor do Nobel.
Além do aprofundamento na história da construção da democracia, a dinâmica possibilitou que os participantes ocupassem seu lugar de fala no desenrolar do processo. No domingo, dois dos inscritos, um do gênero feminino e outro do gênero masculino, serão escolhidos para viajar comigo em 2020 para Atenas, Londres e Washington, três cidades cruciais para entender a evolução democrática no planeta.
Ainda como resultado desse projeto, estão disponíveis no YouTube dez aulas sobre os livros para todas as pessoas que quiserem assistir. Não existe democracia sem democratas. Precisamos agir para aumentá-los na nossa sociedade.
Publicado em Jornal O Tempo em 22/11/2019