Crescem reclamações contra o transporte coletivo da capital
Reportagem publicada por este jornal no domingo de Carnaval traz números impressionantes, que comprovam a péssima qualidade do serviço de transporte coletivo em nossa capital. De acordo com a repórter Clarisse Souza, no ano passado a BHTrans recebeu nada menos que 14.668 reclamações contra as empresas que exploram o sistema de ônibus de Belo Horizonte. Apenas esse dado já é preocupante, mas há outras informações que corroboram a deterioração do transporte coletivo da cidade.
Ainda segundo os dados da própria BHTrans, fonte da matéria publicada em O TEMPO, em 2017 o número de reclamações chegou a 11.917. Em 2018, com as 14.668 notificações, o acréscimo foi de 23% quando se faz a comparação com o período anterior. Ou seja, diariamente, a população é obrigada a se deslocar em ônibus precários e desconfortáveis, que não cumprem as exigências do contrato firmado entre a prefeitura e as concessionárias do serviço.
Motoristas que não param nos pontos de embarque e desembarque de passageiros, empresas que não cumprem o quadro de horários, veículos com janelas que não abrem, assentos estragados, enfim, a relação de problemas é extensa e demonstra que a empresa responsável pelo gerenciamento e fiscalização do sistema é ineficiente e não consegue fazer com que as empresas de ônibus prestem um serviço de qualidade pelo qual os usuários pagam um valor muito alto.
Diariamente, quase 1,2 milhão de belo-horizontinos usam o transporte coletivo para trabalhar, estudar ou resolver outras questões. Quem mora nas regiões mais distantes da cidade, como Barreiro e Venda Nova, por exemplo, chega a passar mais de três horas no interior de um ônibus, somando-se o tempo consumido no trajeto de ida e volta. É uma desumanidade a que essas pessoas são submetidas, sem que o poder público cumpra o dever de proporcionar transporte coletivo com qualidade e conforto.
E a qualidade do serviço tende a ser pior a cada dia, uma vez que as empresas de ônibus passaram a não usar mais os serviços dos agentes de bordo, obrigando os condutores a exercer duas tarefas: dirigir e receber o pagamento dos passageiros. A retirada dos cobradores traz dois reflexos imediatos para quem usa transporte coletivo: aumenta o risco de acidentes e torna as viagens mais demoradas, transtorno a mais para os já sofridos usuários do serviço.
Esses problemas formam um círculo vicioso que interfere diretamente na mobilidade da cidade. Viagens de ônibus mais demoradas impactam negativamente o fluxo de trânsito. Coletivos com manutenção inadequada podem apresentar defeitos e causar retenções no tráfego. É uma sucessão perversa de falhas, trazendo prejuízos aos 2,5 milhões de belo-horizontinos e gerando uma preocupação generalizada. No dia 24, na primeira dinâmica do projeto Democracia, Livros e Praças, os participantes definiram que a mobilidade é o maior problema de nossa cidade. Estão absolutamente certos.
Diante de tal quadro, a solução é muito clara: a administração municipal precisa agir com rapidez e eficiência para diminuir o sofrimento das pessoas que usam o transporte coletivo. E o tempo é curto para isso. A atual gestão entrou em seu terceiro ano de mandato e nem começou a cumprir o compromisso de campanha de melhorar a qualidade do serviço de ônibus na capital. O Carnaval acabou, gente, a hora é de trabalhar e ser responsável com as promessas feitas antes das eleições.
Publicado em Jornal O Tempo em 08/03/2019.