Belo Horizonte no caminho certo

As imagens divulgadas nos últimos dias por diversos veículos de imprensa do Brasil e do exterior, mostrando a abertura de valas comuns em cemitérios de Manaus para o sepultamento de vítimas da Covid-19, atestam a gravidade da pandemia de coronavírus que o Brasil enfrenta. A capital do Amazonas não seguiu as normas de isolamento social, conta com apenas 19 respiradores e não tem mais vagas em sua rede hospitalar. Em resumo, o sistema de saúde entrou em colapso, e muitas pessoas estão morrendo em casa, sem atendimento médico.

A situação em outras capitais brasileiras também é extremamente grave, embora ainda não tenha chegado ao caos vivido em Manaus. Belém, Fortaleza e Recife, todas com percentual de ocupação das Unidades de Terapia Intensivo (UTIs) acima de 90%, esperam para as próximas horas a repetição do drama do Amazonas. E, o que é pior, o colapso virá antes do pico da pandemia, de acordo com especialistas que assessoram os governos estaduais no enfrentamento do novo coronavírus. Lamentavelmente, vamos ver uma tempestade perfeita: explosão da contaminação e falta de respiradores e de leitos nas UTIs.

Por enquanto, não há nada que possa indicar a repetição dessa tragédia em Belo Horizonte no curto prazo. Entretanto, diante de um vírus novo e com altíssima capacidade de transmissão e letalidade, não há como fazer previsões para um cenário de médio prazo. Entretanto, o último boletim com dados sobre a situação em Minas Gerais, divulgado na quinta-feira, apontando 482 casos e nove mortes na capital, indica que estamos conseguindo bons resultados no esforço de provocar o “achatamento da curva” da Covid-19.

Isso significa, de acordo com análise dos dados atualmente disponíveis, que a transmissão do novo coronavírus em nossa cidade está mais lenta e atinge um menor número de pessoas. Mesmo sem a aplicação de testes em massa, para ter maior clareza científica sobre o comportamento do vírus, a situação da pandemia neste momento não fugiu ao controle das autoridades municipais de saúde, e é possível continuar a impedir o colapso de saúde já vivido por outras capitais, como citei no começo deste artigo.

O primordial agora é que os 2,5 milhões de belo-horizontinos continuem a manter o isolamento social, seguindo as orientações dos médicos e da prefeitura. Não podemos desprezar o esforço coletivo que fizemos nas últimas semanas e, de forma irresponsável, aderir a um relaxamento desordenado, baseado apenas nos interesses de grupos privados e em total desacordo com as recomendações científicas. Não é hora de mudar nossa maneira de enfrentar a pandemia. Os exemplos de que essa aventura resulta em mais mortes são muitos e vêm de vários países.

Defensores do fim do isolamento alegam que não se podem ignorar os efeitos da quarentena sobre a economia. Sim, esses efeitos são reais. Entretanto, é possível mitiga-los, como está sendo feito em outros países, que retomaram a produção econômica sem abrir mão do isolamento antes da hora. Encontrar o equilíbrio entre a preservação da vida e a retomada da economia é crucial. Esse será o tema da reunião especial remota que farei no próximo dia 28. Quem quiser participar pode entrar em contato. Não é para sugerir o fim do isolamento sem embasamento técnico. É justamente para planejar como diminuir os danos econômicos causados pela quarentena, sempre reconhecendo que ela salva vidas.

Publicado em Jornal O Tempo em 24/04/2020.