As vitórias da ciência contra a Covid-19
Desde dezembro do ano passado, quando os primeiros casos de contaminação pelo novo coronavírus se tornaram públicos, a humanidade enfrenta a pior crise sanitária, econômica e social dos últimos cem anos. Os números de infectados e mortos continuam a crescer na África, América do Norte, América Latina e Ásia. Até esta quarta-feira, de acordo com os dados divulgados pela Universidade Johns Hopkins, eram mais de 15 milhões de casos confirmados e cerca de 618 mil óbitos.
Entretanto, em meio a estatísticas tão sombrias, as perspectivas de controle da pandemia ganharam fôlego nesta semana, graças a informações otimistas a respeito dos avanços na criação de vacinas capazes de imunizar a população mundial. Entre as mais de 160 vacinas pesquisadas em diversos países, pelo menos três foram classificadas como seguras e em condições de induzir o corpo humano a gerar anticorpos contra o novo coronavírus. São medicamentos desenvolvidos no Reino Unido, China e numa parceria entre Estados Unidos e Alemanha.
Para nós, brasileiros, que há quase cinco meses enfrentamos a atuação insuficiente do governo federal, incapaz de implementar medidas minimamente eficientes no combate à Covid-19, numa tragédia anunciada ainda no começo do ano, o interesse maior se volta para a droga produzida pela Universidade de Oxford. O Brasil tornou-se parceiro da iniciativa, e a vacina está sendo testada em nossa nação, onde 2.000 voluntários se apresentaram para receber as doses da substância.
De acordo com análises da Organização Mundial da Saúde (OMS) e de pesquisadores independentes, a vacina criada em Oxford é a que se encontra na fase mais evoluída de testes. Ela passou pelas duas primeiras etapas e agora será inoculada em milhares de pessoas. Já se sabe que é uma droga segura, que não põe em risco a saúde de quem é vacinado, e que leva o organismo a produzir anticorpos. Entretanto, é preciso ter certeza de que essas características se manterão na imunização em massa e, mais, qual será a durabilidade da eficácia da vacina contra a Covid-19.
Estima-se que, caso tudo transcorra como previsto, a vacina desenvolvida em Oxford e as outras duas que também demonstraram ser seguras e capazes de levar à criação de anticorpos em contato com o novo coronavírus poderão ser disponibilizadas já no começo de 2021. Um prazo recorde para descoberta e produção de um medicamento tão complexo. E mesmo que haja algum percalço, as conquistas da ciência no enfrentamento da pandemia começam a se consolidar. Não apenas pela pesquisa das vacinas. Há outras informações positivas que comprovam vitórias importantes diante de um vírus tão mortal.
Há novos medicamentos capazes de reduzir as formas graves da Covid-19 e, consequentemente, o número de mortes. Os protocolos de atendimento a pacientes em UTIs avançaram. A ventilação forçada está sendo deixada de lado, com reflexos na diminuição dos óbitos. Da mesma forma, o uso de máscara, álcool em gel e a adoção do distanciamento social contribuem para reduzir os danos da pandemia.
Ao mesmo tempo, são ações que demonstram a insignificância de práticas de curandeirismo ideológico divulgadas com interesses políticos, como o uso de curas diversas sem dados concretos e uma mortífera imunização de rebanho. O combate está apenas no começo, mas a ciência continua a nos sinalizar o rumo seguro para superar essa crise. Vamos prevalecer.
Publicado em Jornal O Tempo em 24/07/2020.