gente, vamos nos inspirar na califórnia
Algumas pessoas dizem que as iniciativas a favor da sustentabilidade são elitistas, atendem somente pequenos grupos e não são economicamente viáveis. Pensar dessa maneira é um equívoco e uma prova desse erro é que o está acontecendo no estado norte-americano da Califórnia, que investiu maciçamente na instalação de painéis solares de energia e agora colhe os frutos.
A – A produção de energia limpa e sustentável em larga escala no estado americano resultou em algo impensável no Brasil, onde o custo da energia elétrica é extremamente caro. Lá foi registrada queda no valor do insumo, que chegou a ser comercializado a preços negativos durante um bom período em 11 de março. Para se ter uma ideia da importância desse fato, é preciso lembrar que a Califórnia sedia algumas das maiores empresas de tecnologia do mundo, instaladas no Vale do Silício. Facebook, Google e Apple fazem parte dessa lista.
B – Nos últimos anos, o parque gerador de energia solar registrou crescimento de 50% na região. Na data em que houve a venda de energia elétrica a preços negativos, nada menos que 40% de toda a energia produzida no estado e encaminhada para distribuição ao Sistema Operador Independente da Califórnia, cujo nome em inglês é California Independent System Operator’s (CAISO), provinha de painéis solares.
C – É preciso esclarecer que o preço foi negativo apenas para o operador, mas os consumidores finais também foram beneficiados com um bom desconto nas tarifas pagas mensalmente, uma vez que o cálculo do preço cobrado de cada um é feito a partir de uma média. Se o preço da energia não oscila durante o período, o consumidor paga uma determinada quantia. Já se houver oscilação negativa, essa queda será incluída na média de cálculo.
D – Tecnicamente o que houve para forçar o preço a ficar negativo para o operador foi optar por uma solução mais barata, uma vez que interromper o processo de geração da energia excedente custaria mais que pagar para receber tal energia. Assim, a imutável relação entre oferta e demanda prevaleceu mais uma vez: excesso de oferta, preços menores, ou até negativos, como foi o caso.
E – Para compreender como a Califórnia chegou a essa situação de geração maciça de energia solar é preciso ressaltar que em apenas 10 anos houve uma expansão muito grande na instalação de painéis solares. Em 2007, era gerado apenas um gigawatt de energia solar. Atualmente, são gerados 14GW. De acordo com especialistas, essa quantidade é capaz de atender a demanda do estado durante muitas horas.
F – E não estamos falando de um estado com poucas indústrias e empresas de grande porte. Pelo contrário. Como comentei no início desse texto, o Vale do Silício abriga empresas de ponta, de importância mundial, e a economia da Califórnia é a sétima maior do mundo. Ou seja, um estado extremamente desenvolvido, com economia diversificada, investindo em sustentabilidade e obtendo resultados expressivos com esta prática.
G – Para se ter uma ideia da diferença das realidades da Califórnia e do Brasil, somente neste ano é esperada que a geração de energia solar nonosso país alcance um gigawatt, atraso de 10 anos em relação à situação do estado norte-americano. Refiro-me especificamente à instalação de usinas fotovoltaicas, que geram energia em escala industrial. Os painéis fotovoltaicos instalados em residências não entram neste cálculo.
H – Para recuperar o tempo perdido, o Brasil precisa mudar seu conceito sobre implantação de matrizes energéticas e investir em energia limpa e sustentável. Nesse campo, tudo é muito tímido por aqui. A geração de energia eólica e fotovoltaica é incipiente e ainda prevalece a implantação de usinas hidrelétricas, de altos custos e extremamente agressivas ao meio ambiente. Está na hora de aprendermos com o Vale do Silício, simplesmente a região mais inovadora do mundo.
I – E isso não deve ser função apenas do Estado. A iniciativa privada deve, obrigatoriamente, investir em fontes limpas e mais baratas de energia. E cito como exemplo a atuação da Google no deserto de Mojave, também na Califórnia. A empresa investiu nada menos que US$ 168 milhões de dólares para construir o maior painel fotovoltaico do mundo, inaugurado em 2014, e com capacidade para gerar energia para 140 mil residências.